Wednesday, November 26, 2008

amigos.....pessoas queridas.....e conhecidos????



Em tempos mais adversos dou comigo a enunciar mentalmente os nomes dos meus amigos para me assegurar de que estão presentes e muito próximos. Falo da proximidade do coração...


Ninguém tem muitos amigos íntimos, não sou excepção e por isso mesmo dou valor àqueles que verdadeiramente o são, ou pelo menos faço um grande esforço.


Aos 25 anos já é possível perceber quem está connosco e permanece firme, sempre, e quem está apenas ocasionalmente ou mesmo

quando não está.


Uns são aqueles que falam a verdade, perguntam aquilo que temos necessidade que saibam e respondem aquilo de que precisamos de ouvir. Põem o dedo nas feridas mas não fazem doer... Os outros são aqueles que estão quando podem, quando lhes damos jeito ou quando acham graça. São igualmente divertidos e até parecem amigos, mas não são. São conhecidos, ou simplesmente pessoas queridas, mas não são amigos. Não se pode ter com eles todas as conversas nem se lhes pode falar sempre com o coração das mãos... Uns e outros conhecem-se mais pelo silêncio do que pelas palavras.


Só é possível partilhar o silêncio com um amigo verdadeiro. Com os outros é impossível...


Com os amigos não, o silêncio é bom e traz muita paz. Não tropeçamos nas palavras, vai direito ao essencial. Trespassa-nos porque nos conhece, no melhor e no pior e sabe sempre como somos e nos sentimos...Sinto que amizade é como o amor. Parece diferente mas é quase igual. A vantagem, na verdadeira amizade, é que existe menos posse, menos ciúme e mais liberdade. Por isso devemos gostar tanto do amor dos Amigos.

Monday, November 24, 2008

Leitura de uma Onda...



Encontro-me na praia, de pé, e observo uma onda.
Não posso dizer que estou absorto na contemplação das ondas. Não estou absorto, porque sei muito bem aquilo que faço: pretendo observar uma onda e observo-a.
Não estou contemplando, porque para a contemplação é necessário um temperamento adequado, um estado de espírito adequado e um conjunto de circunstâncias externas adequadas: e apesar de eu não ter qualquer questão de princípio contra a contemplação, nenhuma das três condições se verificam no meu caso.
Não são ondas que eu pretendo observar, mas uma única onda e basta: querendo evitar as sensações vagas, estabeleço para cada um dos meus actos um objectivo limitado e bem definido.
Vejo despontar uma onda lá ao longe, vejo-a crescer, aproximar-se, mudar de forma e de cor, enrolar-se sobre si própria, quebrar-se, desvanecer, refluir.
Mas isolar uma onda, separando-a da onda que imediatamente se lhe segue e que parece empurrá-la, e que por vezes a alcança e a arrasta consigo, é muito difícil; assim como separá-la da onda que a precede e que parece arrastá-la atrás de si em direcçao à costa, salvo quando depois eventualmente, se volta contra ela, como que para a deter.
Não se pode observar uma onda sem ter em conta os aspectos complexos que concorrem para a sua formação e aqueles outros, igualmente complexos, a que essa mesma onda dá lugar.
Estes aspectos variam continuamente, pelo que uma onda é sempre diferente de uma outra onda; mas também é verdadeque cada onda é igual a uma outra onda, mesmo que não seja aquela que lhe é imediatamente contígua ou sucessiva; em resumo, existem formas e sequências que se repetem, ainda que irregularmente distribuídas no espaço e no tempo.
Aquilo que pretendo apenas é simplesmente ver uma onda, ou seja colher todas as componentes sem descurar nenhuma delas, até poder registrar aspectos ainda não recolhidos anteriormente; assim que me aperceber de que as imagens se repetem, saberei que vi tudo o que queria ver e poderei parar.